segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Compartilhe seu choro, mas sempre distribua seus sorrisos

O choro e o sorriso são duas coisas bastante comuns na vida de uma pessoa. Em vários momentos de nossas vidas iremos passar por experiências que nos levam à alguma dessas coisas.
Dos dois, o sorriso é o mais simples de entender, e até de definir. O riso pode ser considerado, quase sempre, uma expressão de alegria, felicidade, sentimentos e sensações boas. O choro é muito mais complexo, não há causas certas que farão uma pessoa chorar, pode-se chorar tanto de tristeza como de alegria, ou por qualquer sentimento que lhe toque. O choro é a expressão de sentimento que mais se assemelha com a complexidade do ser humano. É muito fácil expor seus sentimentos quando eles te deixam bem e feliz, difícil é se deixar ver em um momento de tristeza.
Dizer que a felicidade contagia já soa clichê, é verdade, mas nem sempre. Ser expectador do sentimento de outra pessoa nos pede muito mais do que um assistir passivo do desenrolar de uma cadeia de emoções. Esses sentimentos alheios, mesmo que por poucos momentos, mudam a maneira que enxergamos o mundo a nossa volta.
A felicidade do outro, através do riso, pode nos levar por três caminhos diferentes. O primeiro é a simples contemplação, é realizar-se em apenas prestigiar aquele sentimento, no segundo, sentimos um impulso de querer sentir a mesma coisa e acabamos por assimilar a sensação boa. No terceiro caminho, sentimos que aquele sentimento não nos pertence nem nos causa admiração, nesse caso cria-se uma tristeza causada pela não apropriação de um sentimento de pertencimento comum, que é a felicidade.
Com o choro não falamos de contemplação, até por quê soaria mórbido e depressivo, mas ainda falamos de dois caminhos. Não os mesmo que o riso, mas ainda dois caminhos. Há um caminho que ao ver o outro chorando nos levamos a dar mais valor a nossa felicidade momentânea, nos dá a certeza de que isso pode mudar se não evitarmos. Pode também nos levar à um caminho de compreensão da dor do outro e criar em nós uma chama de caridade, uma vontade de ajudar. Mesmo sem saber como ajudar, dá vontade.
Por isso eu te digo, garota, compartilha esse teu choro, não carrega só o peso da tua angústia. É bonito o seu sorriso, ele merece aparecer mais. Para distribuir essa felicidade que já esbanjou de você, tu tens que aprender  a compartilhar, com quem te queira bem, o fardo dos teus pesares. Chama tua amiga, tua irmã, quem quer que seja, e diga o que te prende, não tenhas vergonha de chorar, mostra que o que faz belo o teu sorriso é a verdadeira admiração da felicidade e que para admirar a felicidade, devemos aprender que não se vive só dela.
Quero te ver despejando sorrisos felizes, despertando alegria e contemplação.

domingo, 20 de novembro de 2011

Dias, noites e madrugadas no velho bairro do Recife


Era cinco da manhã, eu estava chegando em casa depois de uma noite animada com os amigos e na caminhada que fazia pela rua comecei a pensar nas várias fases do dia. Há tanta beleza, diferença e complexidade em cada um desses momentos.
Começo numa ordem diferente, começo pela noite, que me prende com um fascínio fora do comum. Admiro a noite da minha cidade, tem uma beleza incomum e natural.
Nessa minha noite de confraternização e reencontro com velhas amizades fomos para o Recife Antigo, o bairro mais bonito da cidade. Lá a noite tem um significado bem especial, é como uma mistura de boemia, medo, alegria e saudade. Um ar  nostálgico que dá vontade de voltar no tempo e viver outra época, ser outra pessoa.
Essa beleza e alegria entra pela madrugada e vai quase até a manhã. Mas a madrugada de lá, aaaah a madrugada, tem uma cara de outro tempo, as luzes do velho bairro ficam especiais, os espaços que até uma hora atrás estava cheios de gente, agora adormecem sozinhos, numa solidão maravilhosamente invejável. E notamos figuras que passavam despercebidas nas ruas congestionadas de gente. Sem todas aquelas pessoas conversando, com suas bebidas e cigarros nas mãos, discutindo polêmicas e frivolidades, podemos perceber a poesia silenciosa declamada pelos sofridos catadores de lata que tiram o alimento de suas famílias das sobras do divertimento alheio. Há uma complexa e estranha beleza nos olhos dessas pessoas, olhos sofridos que sorriem sozinhos quando voltam pra casa, satisfeitos com a "coleta" da noite.
Essa madrugada especial é como uma cápsula do tempo que nos prende em uma atmosfera diferente, mas que acaba com a chegada dos primeiros raios de sol. Os pescadores chegam à ponte 12 de Setembro, os garis começam seu trabalho e aos poucos a poesia dos velhos casarões da época de ouro daquele bairro vão cedendo espaço à música do mundo moderno. Começa então uma manhã com cara de nascimento, um nascimento que ocorre com a magia do despertar de uma cidade.
À medida que acaba a poesia, nasce essa música peculiar, com as vozes e melodias daqueles que diariamente frequentam aquele lugar e fazem dessa bela cidade o que ela é.
Entre a boemia da noite e a música do dia, nada fala mais alto do que a silenciosa poesia declamada pelos sobrados e pontes da velha cidade durante sua madrugada.