quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Vodka, anel de mulher e uma conversa de bar ao som de Blues

Faz seis meses. Eu a encontrei, entreguei-lhe um anel e fiz muitas promessas. Foi fácil falar aquelas coisas. Me surpreendi com a facilidade em cumprí-las também. Não que eu seja um cara que sempre faz tudo certo, mas sempre me esforcei. Pisei na bola várias vezes, mas quem não faz isso? Nunca foi nada grave.
Hoje. Fui na sua casa, tentei falar com você. Sem ao menos atender a porta, você reclamou de uma dor qualquer e me mandou embora. Eu sabia que o fato de não termos um relacionamento de verdade não deveria influenciar na maneira que levamos as coisas. Não consigo ser assim. Tenho emoções demais para ser tão racional.
Essa noite. São 21:01, eu ainda estou em Olinda. Em quanto voltava para casa vi numa ladeira um bar. Resolvi entrar.
Lugar interessante, aquele. Lá dentro era quase deserto. Tocava Blues. Umas mulheres, todas aparentando não mais que trinta, se amontoavam perto da entrada. Parecia alguma espécie de comemoração. Elas riam falsamente, tiravam fotos e conversavam. Me sentei numa mesa distante, não as via mais. Em pouco chega uma garçonete. Ruiva, aparentando seus quarenta e poucos anos. Tinha um sorriso particular. Transmitia uma felicidade tão natural que me causava espanto. Não tinha o sorriso amargo das jovens da entrada.
Instantes depois. Alguns copos jaziam na mesa. A vodka, agora dentro de mim, conversava comigo. Peguei no bolso o anel, que em outra ocasião ela me devolvera e o meti na nossa conversa. Tão simples aquele ato de presenteá-la com ele. Definitivamente significou mais pra mim do que pra ela.
Resolvi pegar um papel, escrever o que saía dessa louca conversa. Minutos depois você me liga. Brigamos  novamente por alguma futilidade sem sentido. Você fica com raiva e desliga. Volto ao papel. Outro copo vazio jaz a mesa e o blues continua tocando.
Me pergunto o motivo de estar ali, enquanto contemplo o anel na minha mão. O comprei do jeito que você queria. Me pego pensando em outra mulher. Mal a vi, mas ela tem um jeito francês que me fascina. Adoro as mulheres francesas. Penso em outra, do tempo do colégio. Eu era ingênuo demais pra tomar qualquer atitude.
Chega no bar um grupo de pessoas, homens e mulheres. Falam alto e parecem se divertir. O Blues parou. Porquê tiraram a música? Preciso ir ao banheiro. Voltei. Um outro grupo de pessoas senta numa mesa em frente à minha. Todos velhos, exceto uma mulher. Vão chegando mais pessoas, parece que vão fazer uma festa. Todos conversam e carregam presentes. Mal ouço a música que, bem baixo, volta a tocar.
Quase me esqueço do que estava falando, até que vejo o anel jogado sobre o pano vermelho da mesa.
As pessoas falam tão alto. Minha cabeça dói mais agora do que quando cheguei. Peço mais uma dose. A garçonete me atende com o mesmo sorriso de quando cheguei. o Blues está alto novamente. Que minha cabeça doa por boa música, não pela conversa sem propósito desses velhos narcisistas. Só falam de suas posses e viagens, principalmente as mulheres da mesa.
Uma folha de papel cobre o anel e por um instante acho que o perdi.
Lembro que no caminho do banheiro encontrei a mãe dela. Não imaginava a situação. Parei, a cumprimentei e voltei à minha mesa e ao meu papel.
São quase 22:00. As pessoas me incomodam. Quase não consigo continuar minha incomum conversa. Risos falsos enchem o ambiente, em seguida os velhos cochicham, pelo pouco que ouço parecem falar mal de alguém.
Volto à minha conversa e o anel grita comigo. Me pergunta o motivo de eu carregá-lo todos dias no bolso. Dou uma desculpa qualquer e viro outra dose. Ao descer pela garganta a vodka repetidamente me faz o mesmo questionamento. Sou obrigado a falar a verdade.
Inúmeras vezes cogitei jogar esse anel num lago qualquer. Tive uma ideia que eu julgo melhor. Vou dá-lo a um alguém sem sentido. Alguma garota que esteja sofrendo por amor, alguém com a feição triste o suficiente para merecê-lo. Não vou querer nem saber seu nome, simplesmente o darei.
Estou começando a ficar confuso. Já não identifico as vozes do anel e da vodka. Minha mão não está tão firme. Melhor voltar pra casa. De repente uma mão toca o meu ombro. Era a irmã sua. Porquê estou encontrando a família dela? Não importa. Só me resta ir embora. Moro longe. Dou mais um gole. Tudo fica mais leve.
Tanta gente ao redor que não falei da minha louca conversa e agora tenho que ir. De toda a minha conversa estranha percebi que meu dia não foi de todo ruim. Percebi que já não gosto dela e ainda ganhei um dinheiro jogando com os amigos.
A irmã dela veio se espedir de mim. Também vou para casa.
Garçonete! A conta e algo pra encher o coração, por favor!

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Compartilhe seu choro, mas sempre distribua seus sorrisos

O choro e o sorriso são duas coisas bastante comuns na vida de uma pessoa. Em vários momentos de nossas vidas iremos passar por experiências que nos levam à alguma dessas coisas.
Dos dois, o sorriso é o mais simples de entender, e até de definir. O riso pode ser considerado, quase sempre, uma expressão de alegria, felicidade, sentimentos e sensações boas. O choro é muito mais complexo, não há causas certas que farão uma pessoa chorar, pode-se chorar tanto de tristeza como de alegria, ou por qualquer sentimento que lhe toque. O choro é a expressão de sentimento que mais se assemelha com a complexidade do ser humano. É muito fácil expor seus sentimentos quando eles te deixam bem e feliz, difícil é se deixar ver em um momento de tristeza.
Dizer que a felicidade contagia já soa clichê, é verdade, mas nem sempre. Ser expectador do sentimento de outra pessoa nos pede muito mais do que um assistir passivo do desenrolar de uma cadeia de emoções. Esses sentimentos alheios, mesmo que por poucos momentos, mudam a maneira que enxergamos o mundo a nossa volta.
A felicidade do outro, através do riso, pode nos levar por três caminhos diferentes. O primeiro é a simples contemplação, é realizar-se em apenas prestigiar aquele sentimento, no segundo, sentimos um impulso de querer sentir a mesma coisa e acabamos por assimilar a sensação boa. No terceiro caminho, sentimos que aquele sentimento não nos pertence nem nos causa admiração, nesse caso cria-se uma tristeza causada pela não apropriação de um sentimento de pertencimento comum, que é a felicidade.
Com o choro não falamos de contemplação, até por quê soaria mórbido e depressivo, mas ainda falamos de dois caminhos. Não os mesmo que o riso, mas ainda dois caminhos. Há um caminho que ao ver o outro chorando nos levamos a dar mais valor a nossa felicidade momentânea, nos dá a certeza de que isso pode mudar se não evitarmos. Pode também nos levar à um caminho de compreensão da dor do outro e criar em nós uma chama de caridade, uma vontade de ajudar. Mesmo sem saber como ajudar, dá vontade.
Por isso eu te digo, garota, compartilha esse teu choro, não carrega só o peso da tua angústia. É bonito o seu sorriso, ele merece aparecer mais. Para distribuir essa felicidade que já esbanjou de você, tu tens que aprender  a compartilhar, com quem te queira bem, o fardo dos teus pesares. Chama tua amiga, tua irmã, quem quer que seja, e diga o que te prende, não tenhas vergonha de chorar, mostra que o que faz belo o teu sorriso é a verdadeira admiração da felicidade e que para admirar a felicidade, devemos aprender que não se vive só dela.
Quero te ver despejando sorrisos felizes, despertando alegria e contemplação.

domingo, 20 de novembro de 2011

Dias, noites e madrugadas no velho bairro do Recife


Era cinco da manhã, eu estava chegando em casa depois de uma noite animada com os amigos e na caminhada que fazia pela rua comecei a pensar nas várias fases do dia. Há tanta beleza, diferença e complexidade em cada um desses momentos.
Começo numa ordem diferente, começo pela noite, que me prende com um fascínio fora do comum. Admiro a noite da minha cidade, tem uma beleza incomum e natural.
Nessa minha noite de confraternização e reencontro com velhas amizades fomos para o Recife Antigo, o bairro mais bonito da cidade. Lá a noite tem um significado bem especial, é como uma mistura de boemia, medo, alegria e saudade. Um ar  nostálgico que dá vontade de voltar no tempo e viver outra época, ser outra pessoa.
Essa beleza e alegria entra pela madrugada e vai quase até a manhã. Mas a madrugada de lá, aaaah a madrugada, tem uma cara de outro tempo, as luzes do velho bairro ficam especiais, os espaços que até uma hora atrás estava cheios de gente, agora adormecem sozinhos, numa solidão maravilhosamente invejável. E notamos figuras que passavam despercebidas nas ruas congestionadas de gente. Sem todas aquelas pessoas conversando, com suas bebidas e cigarros nas mãos, discutindo polêmicas e frivolidades, podemos perceber a poesia silenciosa declamada pelos sofridos catadores de lata que tiram o alimento de suas famílias das sobras do divertimento alheio. Há uma complexa e estranha beleza nos olhos dessas pessoas, olhos sofridos que sorriem sozinhos quando voltam pra casa, satisfeitos com a "coleta" da noite.
Essa madrugada especial é como uma cápsula do tempo que nos prende em uma atmosfera diferente, mas que acaba com a chegada dos primeiros raios de sol. Os pescadores chegam à ponte 12 de Setembro, os garis começam seu trabalho e aos poucos a poesia dos velhos casarões da época de ouro daquele bairro vão cedendo espaço à música do mundo moderno. Começa então uma manhã com cara de nascimento, um nascimento que ocorre com a magia do despertar de uma cidade.
À medida que acaba a poesia, nasce essa música peculiar, com as vozes e melodias daqueles que diariamente frequentam aquele lugar e fazem dessa bela cidade o que ela é.
Entre a boemia da noite e a música do dia, nada fala mais alto do que a silenciosa poesia declamada pelos sobrados e pontes da velha cidade durante sua madrugada.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Caminhos, navios e diários.

    A vida é um caminho sem volta, uma estrada sem atalhos nem retornos. Dificuldades são como rios no meio de nossos caminhos, cabe a nós fazermos pontes. Pessoas são como ilhas, cidades são arquipélagos. Relacionamentos são navios que fazem um caminho incessante entre essas ilhas. Mas como todo barco, se você não cuida ele fica velho. Não a boa velhice, aquela da sabedoria, mas a velhice ruim, aquela que trás doenças.
    Dentro desse barco, o coração é nosso diário de bordo, tudo fica guardado aqui, para sempre. Cada coisa que acontece, seja ruim ou seja boa, fica nesse diário. Cada um dos nossos erros e acertos fica resgistrado, como que se houvesse sido gravado com ferro em brasa.
    As coisas felizes gravadas nesse diário podem até te fazer alegre por uns momentos, mas são as coisas tristes que você se lembrará para o resto de sua vida.
    Às vezes a velhice não precisa chegar para o barco afundar, basta que as ilhas não sejam suficientes pra manter o navio. Basta um capitão que não saiba comandar. Basta um banco de areia para o navio encalhar.
Mesmo o barco mais bonito, pode ficar preso e afundar em uma enseada repeleta de rochedos, mesmo um grande amor pode morrer em uma enseada de dores e mágoas.
    E quando o barco afunda, a ilha se pergunta como vai viver sem aquela ligação. Ligação que a deixava tão completa e segura.
    E a ilha lembra que é só uma ilha. Ela não pode se mover, não pode ir atrás daquela ilha a  qual já foi ligada um dia. Hoje, aquele velho barco não existe e um coral cresceu entre essas lhas. O caminho nunca mais será o mesmo. Da mesma maneira que estas ilhas nunca mais possuirão a mesma ligação, um amor rompido nunca volta a ser o que era.
    Um coração quebrado não se refaz com cola, mas sim com tempo.
    E o tempo, rapaz, é a grande chave dessa história de caminhos, pontes, navios e ilhas.