domingo, 20 de novembro de 2011

Dias, noites e madrugadas no velho bairro do Recife


Era cinco da manhã, eu estava chegando em casa depois de uma noite animada com os amigos e na caminhada que fazia pela rua comecei a pensar nas várias fases do dia. Há tanta beleza, diferença e complexidade em cada um desses momentos.
Começo numa ordem diferente, começo pela noite, que me prende com um fascínio fora do comum. Admiro a noite da minha cidade, tem uma beleza incomum e natural.
Nessa minha noite de confraternização e reencontro com velhas amizades fomos para o Recife Antigo, o bairro mais bonito da cidade. Lá a noite tem um significado bem especial, é como uma mistura de boemia, medo, alegria e saudade. Um ar  nostálgico que dá vontade de voltar no tempo e viver outra época, ser outra pessoa.
Essa beleza e alegria entra pela madrugada e vai quase até a manhã. Mas a madrugada de lá, aaaah a madrugada, tem uma cara de outro tempo, as luzes do velho bairro ficam especiais, os espaços que até uma hora atrás estava cheios de gente, agora adormecem sozinhos, numa solidão maravilhosamente invejável. E notamos figuras que passavam despercebidas nas ruas congestionadas de gente. Sem todas aquelas pessoas conversando, com suas bebidas e cigarros nas mãos, discutindo polêmicas e frivolidades, podemos perceber a poesia silenciosa declamada pelos sofridos catadores de lata que tiram o alimento de suas famílias das sobras do divertimento alheio. Há uma complexa e estranha beleza nos olhos dessas pessoas, olhos sofridos que sorriem sozinhos quando voltam pra casa, satisfeitos com a "coleta" da noite.
Essa madrugada especial é como uma cápsula do tempo que nos prende em uma atmosfera diferente, mas que acaba com a chegada dos primeiros raios de sol. Os pescadores chegam à ponte 12 de Setembro, os garis começam seu trabalho e aos poucos a poesia dos velhos casarões da época de ouro daquele bairro vão cedendo espaço à música do mundo moderno. Começa então uma manhã com cara de nascimento, um nascimento que ocorre com a magia do despertar de uma cidade.
À medida que acaba a poesia, nasce essa música peculiar, com as vozes e melodias daqueles que diariamente frequentam aquele lugar e fazem dessa bela cidade o que ela é.
Entre a boemia da noite e a música do dia, nada fala mais alto do que a silenciosa poesia declamada pelos sobrados e pontes da velha cidade durante sua madrugada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário